27.2.13

Histórias das Canções: Ponteando o rio, o mar

Postado por Cleverson Natali
Foto: Raul Silveira

Ponteando o rio, o mar tem uma das histórias que eu mais gosto.

Quando jovem, eu estudava piano e teclado cerca de cinco, seis horas por dia. Mesmo com esse tempo de estudo, eram muitas as dificuldades. Sendo assim, me incomodava ouvir alguns pedagogos e estudiosos da música dizer que qualquer um podia tocar. Como assim, qualquer um pode tocar? Eu ralava todos os dias e as dificuldades técnicas eram muitas.

Resolvi dividir essa inquietude com vários amigos e professores, mas ninguém conseguiu dar uma resposta que pudesse resolver isso.

Comecei a fazer faculdade de música no Rio de Janeiro e um dos professores me pareceu a pessoa certa para ser questionada sobre o assunto. Perguntei o que ele achava sobre a questão de qualquer um poder tocar. Ele então me disse:

"_ Tudo está na forma em que se interpreta a palavra tocar. 'Tocar' qualquer um pode. Passar a mão em um instrumento e dedilhar as suas cordas, tocar uma escala, uma melodia, alguns acordes, isso qualquer um pode. Mas 'tocar' a plenitude do ser, a alma de uma pessoa, somente um músico de verdade pode fazer."

Quando surgiu a possibilidade da gravação do disco, achei bem oportuno fazer uma música sobre o assunto.

Quem toca toca o que não dá pra alcançar
Quem toca alcança o que busca encontrar...

Resolvi falar dos sonhos também, afinal, a música sempre mexe com eles. Nessa passagem, cito o livro Os sonhos não envelhecem de Márcio Borges. Essa obra sobre o Clube da Esquina é muito importante para mim.

...Um grande sonho que escondido está
Guardado a sete chaves esperando o seu lugar
Pois sonhos nunca envelhecem,
Já dizia o poeta, só precisa acreditar...

Na terceira estrofe resolvi falar sobre a simplicidade musical. Representei essa simplicidade na figura do violeiro. A beleza muitas vezes está na simplicidade e não na quantidade ou qualidade.

Essa ainda teve a participação de Claudio Nucci na gravação. Ele, o músico que sempre nos "tocou" com seu trabalho, que tanto admiramos.

Espero que as nossas canções possam tocar e ajudar as pessoas.


Ponteando o rio, o mar (Cleverson Natali)

Quem toca toca o que não dá pra alcançar
Quem toca alcança o que busca encontrar
E é tocando que a vida eu levo
Fazendo o coração sempre menino procurar

Um grande sonho que escondido está
Guardado a sete chaves esperando o seu lugar
Pois sonhos nunca envelhecem
Já dizia o poeta: só precisa acreditar

No mais o violeiro é ligeiro passarinho bem faceiro ponteando o rio, o mar
Cantando moda pra sua morena, inspirado na beleza e na doçura do luar


19.2.13

Silmara Franco, sobre a participação do Cantus Quatro no Sr Brasil

Postado por Rafael Freitas



Quem me conhece, já sabe: sou apaixonado pelos meus amigos. Supervalorizo mesmo. Digo amigos AMIGOS, desses que a gente pode contar em qualquer hora, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. rs

Amigos sempre vão estar ali dando um jeitinho de fazer um carinho, de se fazer presente, de dividir uma notícia boa ou uma pizza! E quando essa amizade esbarra em afinidades musicais, então... aí é pra valer mesmo! Como acontece com a gente do Cantus. E com tantos de nossos amigos.

Vai daí que a gente recebe e troca esse carinho de várias formas. O da minha querida Silmara Franco foi com as palavras:


"O dia em que meu amigo cantou na televisão

Caetano Veloso não sabe, mas o Rafael também pensava em cantar na televisão. Quando ele avisou, “Vai passar no programa tal, tal dia”, corri botar na agenda. Já esperava que fossem fazer bonito, conheço a cantoria dos quatro – ele mais três. Eu só não contava com a vontade doida de chorar que me deu, ao ver meu amigo na tela. Meus olhos marejaram em HD.
Sob domínio do streaming, onde todos podem, democraticamente, mostrar seus talentos e ser acessados infinitamente – independente da vontade e do crivo de algum editor enjoado – , cantar na televisão ainda é mágico, mitológico. Ainda desassossega o coração da família e dos amigos, que se aboletam no sofá, no horário anunciado. Não se lava louça nessa hora, não se atende telefone, não se faz barulho. Chiu, vai começar.
Rafael e seus companheiros de voz – dentre eles, a moça da saia mais bonita deste mundo – começam e eu, da minha sala de estar, reverencio sua música com alegria e orgulho. Não me mexo na poltrona, para não perder nenhum acorde. Não é todo dia. Juntos, os quatro não cantam; vão desenhando as notas no ar. Canto é uma ilustração sonora e colorida. O que meu amigo leva nos bolsos da camisa xadrez, escolhida para o dia? Nas mãos (e na voz), eu sei: um sonho em sol maior. Sol de quase dezembro. Por que não?
Quis tocar a campainha do vizinho e mandá-lo ligar a TV, “Eu conheço este aqui, ó!”. Contar que tomamos um café juntos, sempre que dá. Que, na tela, o Rafael parece tão sério e comportado (logo quem). Que eu sei como é sua voz quando está à paisana. E o quanto rimos da vida, às vezes tão desafinada.
Quis registrar para minha coleção de vizinhos que sou tiete autorizada do Rafael e que vou garantir meu autógrafo-abraço vitalício, comprando todos os discos que ainda virão desse quarteto mineiro e ensolarado.
Quis dizer que não sei se meu amigo toma Coca-Cola, mas sei que não pensa em casamento. Ele só quer seguir vivendo. Amor."











Minha amiga Silmara Franco é autora do blog Fio da Meada, recomendadíssimo!